janeiro 20, 2011

London 3


Luciola pedala furiosa sua bicicleta até a estação. Já dentro do vagão, prefere não olhar as mãos com feridas do maldito produto aquele com cloro ou não sei que outra porcaria que era para limpar o fogão e ela usou para o banheiro. Humilhação não é a palavra, é apenas um desgosto total, ainda mais que uma carta de papel cor-de-rosa chegou escrita por sua mãe naquele mesmo dia. Querida filha, não entendo como uma moça que estudou tanto para ser arquiteta pode estar subordinada a uma situação como essa, de  limpar privadas. Ai, tem dias que é melhor ficar embaixo das cobertas. Pô, atividade nobre, limpar privadas. Meio budista até... Socorro, mais ainda quando o termômetro da TV marca 2 graus negativos.

Luciola conseguiu um bico de limpar escritórios na área da City, perto de London Bridge. Ela gosta de caminhar na contramão de todos aqueles homens engravatados que saem pontualmente britânicamente nervosamente de seus bancos internacionais, Tokyo, Deutsche, Midland, Swiss, Singapura, Cayman, paraísos e ilhas aqui acolá . E só precisa caminhar mais 3 quadras aproveitando que ninguém olha seu rosto e então chega naquele beco onde a placa histórica é testemunha que ali bem ali, naquele fino bairro, Londres já havia sido destruída uma vez pelo fogo, ali onde um ano antes houvera a peste. A população ficou reduzida à metade depois das pragas.

Uma cidade inteira para reconstruir, casebres, casinhas, casonas. Luciola está  atrasada, precisa correr os últimos metros e não adianta agora sonhar com o fogo e as labaredas, precisa apenas concentrar-se em não ser atropelada pelas carroças que carregam esses homens tão bem vestidos com seus ternos bem cortados que vão chacoalhando dentro de seus caixões

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